sábado, 31 de janeiro de 2015

sem rede

Sonhei uma noite destas contigo. 
De cima caíam gotas cheias de mim. 

Passeava numa falésia em pequenos passos, com medo de cair e com a certeza que o queria fazer. 
Percorri-a uma vez sem olhar para baixo, sem querer saber o que me atormentava. Voltei a percorre-la a olhar os meus pés, que se encarceravam em mim, lentamente sob o meu olhar.
E então olhei para o fundo da falésia e não consegui andar. 
Era tão assustador e tão tentador. 

Sabia que ia cair se a voltasse a percorrer 
mas não resisti, 

queria ver o fundo, 
queria saber como ia ser,
queria largar o mundo 
e libertar-me de mim. 

Lembro-me de andar para trás, de me afastar da falésia.

Lembro-me de olhar para os restos de mim a cair do céu fortemente, 
a impedir-me de ir, 
a manter-me em mim. 

Lembro-me de começar a correr, do ímpeto cada vez mais perto. 

Libertei-me de mim e voei. 

Vi o fundo mais perto, de uma beleza atroz cada vez mais nítida. 

Sei que não me fechei em mim. 
Sei que queria sentir em pleno o impacto. 

Não consegui. 

Acordei sem saber.


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